A edição mesmo | dia 101

Continuando...

Após todos os passos terem sido dados, obrigatoriamente e sem falhas, faz-se aquilo a que se chama rough cut, corte bruto/cru (tradução literal), o rascunho pronto.

Esta primeira etapa da verdadeiramente dita edição consiste basicamente em escolher os melhores takes de cada plano diferente filmado, de cada cena, e por tudo pela ordem da narrativa tal como esta é apresentada no guião.
Os planos são apresentados na sua integridade para podermos visualizar se temos acção suficiente em sobreposição permitindo-nos posteriormente fazer opções de edição sobre como montar a cena.

Neste primeiro esboço começamos também a ter noção do que é que poderá funcionar bem e o que é que nos vai apresentar mais dificuldades por ter falhas.

Como já disse anteriormente o meu filme tinha problemas desde a sua criação, portanto estava á espera desde o inicio que teria de mudar o guião, foi a partir desta fase de conceito que decidimos alterar a ordem das cenas, abolindo por completo a cena final e acabando com a cena que deveria ser a penúltima.

Na ultima cena a rapariguinha iria buscar os sapatos a que tinha direito, encerrados num baú. Um plano fraco em que nem sequer víamos a sua expressão facial e que não acrescentava verdadeiramente nada á história. Decidi então acabar com a vitória da pequena rapariga, quando ela consegue finalmente percorrer toda a corda sem cair.

The Art of Walking como é o filme chamado

A ordem das cenas também teve de ser alterada para poder dar mais sentido á escalada emocional e á evolução da relação entre pai e filha.

Ficava no entanto, e ainda, por explicar a razão da existência da corda e da falta da mãe, que será explicado com algumas cenas que serão filmadas na próxima semana. Esta presença/ausência da mãe que não está lá sem sabermos a razão para tal vai tornar a reaproximação de pai e filha e a vitória da pequena rapariga num encontro mais caloroso do que o que tínhamos anteriormente. Um pouco isolado, e talvez fora de contexto para algumas audiências.

Imagino que as minhas teorias se comecem a tornar maçadoras para vocês, vamos então para algo ainda mais chato, a parte técnica. Quais os utensílios que utilizo nesta parte da construção...

A Steenback o mecanismo que me permite ver o filme, andar para a frente e para trás, etc...a base de tudo, pois de outra forma só veria frames com menos de meio centímetro e sem ideia de qual seria a acção...

Então corto tudo, no inicio e no fim de cada take, e organizo por cenas e por planos para depois ter acesso rápido ao que preciso.


Estas fotos foram tiradas no inicio do processo, garanto que agora tenho o bin bem mais cheio, mas ainda assim completamente organizado. O instrumento que faz os corte e colagens, splicer, também é bastante básico e fácil de utilizar, sendo de momento uma tarefa já automática...

Só por curiosidade, a imagem é cortada na vertical, exactamente entre os dois frames que escolhemos, e o som é cortado na diagonal, para fazer um pequeno fade (não sei se já tinha dito isto?!)

E lá estou a trabalhar um bocadinho, a tirar coisas para fora, a ordenar, a tentar juntar acções de forma a parecerem uma única, a disfarçar más performances...

Poderia falar eternidades sobre estas coisas que vos parecem tão aborrecidas...




Só mais uma curiosidade, sabiam que quando as pessoas fazem associações de pensamentos tendem a piscar os olhos? por isso é que uma pessoa em situação de fúria "nem pestaneja" porque o seu estado de adrenalina já nem lhe permite fazer associações...simplesmente age! Através deste pequeno pormenor consegue-se julgar a performance dos actores, se eles estiverem mesmo dentro da personagem vão piscar os olhos na altura certa, isto é algo que nós não racionalizamos mas que sentimos...Mesmo em conversas quotidianas, de alguma forma sabemos quando a pessoa está a apanhar o nosso raciocínio ou não, e isso está em parte relacionado com sinais físicos destes...

Se um actor está a pensar no Oscar, se está gordo ou magro, ou se o realizador se vai chatear ou não, por muito que se esforce nunca o vai conseguir fazer bem...e os editores corrigem isso e tornam a sua performance boa e ele ganha mesmo o Oscar! eheh (não fui eu que disse, foi o Walter Murch, grande editor dos nossos tempos)

4 comentários:

  1. Sim senhora grande Murch!!!!!

    De resto as fotos, principalmente aquela em que a menina surge por detrás das fitas, corroboram o prazer que esse trabalho(ão) lhe dá.

    Nunca esse camisola pensou viajar e cobrir pessoa tão dotada.

    :)

    Beijinho desta mãe afónica (outra vez) :(

    ResponderEliminar
  2. e TU GOSTAS MESMO DE FAZER ESSES TRABALHOS TÉCNICOS? nunca ficas-te enleada em fitas?
    espero que gostes!
    beijinho vó J

    ResponderEliminar
  3. Sim! embora tenha este trabalho todo técnico é uma parte bastante criativa no processo de criar um filme..Costuma-se dizer que há três hipóteses de contar a história, quando se escreve o guião, quando o realizador dirige para a sua visão, e finalmente quando o filme é editado...
    Aliás a edição pode salvar ou destruir um filme

    ResponderEliminar
  4. gosto!

    E também gostei imenso da foto em que apareces por detrás das fitas! Ah e da cena de piscar os olhos! Não fazia ideia! Vou estar mais atenta... :)

    C

    ResponderEliminar